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quinta-feira, 2 de março de 2017

Relação Mestre-Discípulo (Si Fu-To Dai)

Relação Mestre-Discípulo (Si Fu-To Dai) na Perspectiva do Pensamento Tradicional Chinês


         É com muita satisfação que começo este blog, que terá como tema central, a Cultura e Pensamento Tradicional Chineses. E o primeiro tema escolhido dentro desse contexto, é a relação Mestre-Discípulo (Si Fu-To Dai).
          Quero ilustrar que, etimologicamente falando, Mestre vem do Latim MAGISTER, “chefe, líder, diretor”, de MAGIS, comparativo de MAGNUS, “grande” e que Discípulo vem do Latim DISCIPULUS, “aluno, seguidor, estudante”, de DISCERE, “aprender”, formado por DIS-, “fora”, mais CAPERE, “pegar, agarrar (intelectualmente)”
             Em muitos sites, há a explicação da transliteração dos respectivos ideogramas, o que hoje nós não faremos.

        
Si Jo Ip Man e seu To Dai (Meu Si Tai Gun) Grão Mestre Moy Yat
         
         Desde quando vi pela primeira vez, em 1984, o filme Karatê Kid (lançado no Brasil no dia 28 de setembro), eu me apaixonei pela ideia das Artes Marciais. E após o filme, houve um bum de academias de KaratêDo e logo pedi meu pai para me matricular em uma pois eu queria viver aquela fantasia, de ter um Mestre para "me dar" todas as repostas de qualquer situação adversa e com isso, ter sucesso em tudo. 

         Passei por inúmeras Artes Marciais com as quais acabei não me comprometendo muito e hoje, adulto e menos fantasioso, tenho um Si Fu, o Mestre Júlio Camacho da Moy Yat Ving Tsung Martial Intelligence. E, através de experiências vividas com meu Si Fu, compreendo que um Mestre é muito mais do que alguém de lhe dê dicas de "Como Fazer", mas sim alguém com uma percepção e experiência muito maior que a sua e muito além disso, alguém que lhe ajuda a desenvolver todo seu potencial.

         
Grão Mestre Moy Yat e seu To Dai (Meu Si Gung) Mestre Leo Imamura

         A relação Si Fu-To Dai é algo que, mesmo que você não queira mais, dura para sempre. Fazendo uma analogia, um Si Fu pode ser considerado como um "Pai" de uma Família e um To Dai um "Filho" e essa relação não interfere em nada a relação com os pais biológicos. Mas, pode ajudá-lo a re-significar suas atitudes ante sua família co-sanguínea.

          Um filme em que muitos assistiram, Ip Man com Donnie Yen, onde a personagem Lin (Monge Yu Xing) soube da notícia em que Ip Man (Donnie Yen) vencera Mestre Liu (Chen Zhi Hui) e disse que o Mestre Ip deveria ter avisá-lo antes pois ele já era Discípulo do Mestre Liu quando Quan (Simom Yam), amigo de Ip Man, o retruca dizendo que ele já havia sido discípulo de todos os Mestres. Essa cena é bem interessante pois demonstra a importância e o valor dessa relação para que ela não seja subvertida.
           
           Apesar de se ter um pensamento fantasioso sobre essa relação, devido à filmes principalmente, ela é bem diferente no dia a dia. É um costume da grande maioria querer que alguém resolva algum problema e/ou resolva seu próprio problema dizendo: "faça isso" ou "faça aquilo". Isso é algo que não acontecerá na relação, mesmo porque cada indivíduo é único por si só e uma atitude para um que deu muito certo, pode ser desastroso para outro.

          Quando um Si Fu aceita ter um discípulo, ele já está deixando uma porta aberta e cabe ao To Dai entrar por ela ou não. O "passar pela porta" é uma decisão exclusiva para o To Dai e, de acordo com a escolha, a relação Si Fu-To Dai pode ser ainda mais difícil, principalmente para o Si Fu pois ele não tem apenas um To Dai e ele está sempre atento a todos (mesmo que você ache que não) para que possa ajudá-los a se desenvolverem e o impasse do To Dai pode vir atrapalhar a relação.

         O que vejo nessa relação é que baseasse em um comprometimento mútuo que, por muitas vezes, é unidirecional e vem por parte do Si Fu. Ter um Si Fu me ajudou a compreender algumas questões, a maior delas foi quebrar meu Ego e pouco a pouco dominá-lo. O Ego é um dos maiores problemas que possuímos. Graças ao Ego, acabamos de não prestar atenção no outro, esquecemos da atenção cuidadosa, do zelo, isso não quer dizer fazer tudo para a outra pessoa mas fazer coisas pela outra pessoa, mas sim estar atento e entender o que o outro precisa de fato.



Si Gung Leo Imamura e seu To Dai (Meu Si Fu) Mestre Julio Camacho

             Esse comprometimento entre o Si Fu-To Dai é estranho aqui no ocidente principalmente para que não é do Círculo Marcial ou dos Círculos Religiosos Orientais. Alguns chegam a olhar como "chefismo" e "subalternismo" (sei, usei o Neologismo). E não tem nada haver com isso.

        O Si Fu não te dará o caminho a seguir, pois não pretende criar cópias dele mesmo, mas apontará caminhos (vários) para que você possa ter sua própria experiência, sua própria história. Há muito mais que venho desenvolvendo pouco a pouco e em sua grande maioria, nem percebo o que desenvolvi, simplesmente acontece, quando eu preciso a habilidade está lá e em nenhum momento meu Si Fu disse: Ailton faça assim que tudo se resolverá. Ele apenas me escutou e me preparou, sem eu mesmo saber como... rs, para a minha diversidade.

                
Si Fu e seu To Dai Ailton Jordão

               Quando Si Fu me convidou, eu fiquei muitíssimo feliz e bem temeroso pois não sabia (e ainda não sei) se estou a altura de uma relação tão especial quanto essa. E por ser uma relação baseada principalmente em confiança, compreendi ali que o meu Si Fu tem uma grande confiança em mim, muito mais do que eu mesmo imagino.

            Finalizando, posso dizer, de forma pessoal, sobre a relação Si Fu-To Dai é que, ter um Si Fu que, através de experiências significativas possa lhe desenvolver todo o seu potencial como ser humano é excepcional.

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